Você já se perguntou por que alguns religiosos têm tanta obsessão pelo Diabo? Por que eles acham que precisam gritar, xingar e ameaçar o inimigo em suas orações? Por que eles usam versículos do Antigo Testamento como armas espirituais contra as forças das trevas? Será que isso é bíblico? Será que isso é eficaz? Será que isso agrada a Deus?
Eu já fui um desses religiosos. Eu fazia parte de uma igreja pentecostal, daquelas que acreditam na teologia da prosperidade, na confissão positiva, na unção do riso, na guerra espiritual e em outras doutrinas neopentecostais. Eu achava que tinha que estar sempre em alerta contra os ataques do Diabo, que ele estava por trás de todos os meus problemas e que eu tinha que repreendê-lo em nome de Jesus.
Eu lembro que uma vez eu estava ensinando na escola bíblica sobre oração. A revista era da CPAD, uma editora ligada à Assembleia de Deus, mas até que não tinha muita heresia. Um dos pontos que eu abordei foi que muitas pessoas ficam presas em orações do Antigo Testamento, como se elas fossem mais poderosas ou mais sagradas do que as do Novo Testamento. Eu usei como exemplo o Salmo 91, que muitos usam para expulsar demônios ou para se proteger de todo mal.
Eu disse, brincando para descontrair, que era muito difícil uma oração que já foi usada para “expulsar demônios” surtir efeito novamente, pelo contrário, os demônios iriam sentar e ficar ouvindo. Uma adolescente também brincou: aí vira culto.
Eu não sabia na época, mas eu estava sendo muito ingênuo e irresponsável. Eu estava subestimando o poder da Palavra de Deus e o perigo do Diabo. Eu estava confundindo fé com arrogância e graça com libertinagem. Eu estava desprezando a autoridade das Escrituras e a soberania de Deus.
Hoje eu penso diferente. Hoje eu entendo que o Diabo é real e que ele é nosso adversário. Ele não é uma figura mitológica ou simbólica, mas um ser espiritual que se opõe a Deus e aos seus propósitos. Ele é o pai da mentira, o acusador dos irmãos, o deus deste século, o príncipe das potestades do ar, o dragão, a antiga serpente, o inimigo.
Mas eu também entendo que o Diabo não é onipotente, onisciente ou onipresente. Ele não é igual a Deus nem pode frustrar os seus planos. Ele não tem autoridade sobre os filhos de Deus nem pode nos separar do seu amor. Ele não pode nos tentar além do que podemos suportar nem pode nos impedir de cumprir a nossa missão. Ele é um derrotado, um condenado, um fugitivo.
E como eu sei disso? Porque eu aprendi a ouvir a voz de Jesus e dos seus apóstolos. Eles me ensinaram a forma mais fácil e eficaz de combater o Diabo: não dando ouvidos a ele. Simples assim. Não precisamos entrar em diálogo com ele, nem dar atenção às suas mentiras, nem temer as suas ameaças. Basta resistir a ele, firmes na fé, e ele fugirá de nós.
Isso não significa que devemos ignorar a sua existência ou a sua atuação no mundo. Significa que devemos reconhecer a sua realidade, mas não dar espaço para ele em nossas vidas. Significa que devemos estar vigilantes, mas não ansiosos. Significa que devemos usar as armas espirituais que Deus nos deu, mas não confiar nelas mais do que em Deus.
E quais são essas armas?
A Palavra de Deus, a oração, o jejum, a adoração, o amor, a fé, a esperança, a santidade, a humildade, a obediência, a comunhão, o serviço, o testemunho, a autoridade em Cristo. Essas são as armas que nos fazem vencer o Diabo e todas as suas ciladas.
E quais são os versículos que devemos usar? Todos os versículos da Bíblia. Sim, todos eles. Não há versículos mais fortes ou mais fracos, mais antigos ou mais novos, mais válidos ou mais inválidos. Todos os versículos são inspirados por Deus e úteis para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça.
Não importa se é do Antigo ou do Novo Testamento, se é um salmo ou uma epístola, se é uma promessa ou um mandamento, se é uma bênção ou uma maldição. Todos os versículos têm poder quando usados com fé e de acordo com a vontade de Deus.
Por isso, eu não desprezo mais o Salmo 91 nem qualquer outro salmo. Eu os leio com reverência e gratidão, reconhecendo que eles são expressões da fé e da esperança do povo de Deus em todas as épocas e situações. Eu os uso como orações e como louvores, sabendo que eles me aproximam de Deus e me afastam do Diabo.
Mas eu também não me limito ao Salmo 91 nem a qualquer outro salmo. Eu leio toda a Bíblia com interesse e atenção, buscando conhecer mais a Deus e à sua vontade. Eu uso toda a Bíblia como regra de fé e de prática, sabendo que ela me ensina tudo o que preciso para viver uma vida cristã vitoriosa.
Eu não sou mais um religioso obcecado pelo Diabo. Eu sou um cristão apaixonado por Jesus. E você?